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Monday, May 09, 2005

“O Cruzado” de Michael Alexander Eisner (Replicação)


Francisco é o único herdeiro dos Calatrava, uma das maiores fortunas da nobreza espanhola no séc. XIII, durante o reinado de Jaime II de Aragão. Muito afeiçoado ao irmão mais velho, Sergio, o jovem não aceita a sua morte.

Crente que Sergio se encontra algures no limiar entre o céu e o inferno, ingressa numa cruzada – na qual participa D.Fernando, o corrupto filho bastardo do rei - , com o objectivo de “libertar” a alma do irmão,decide colocar a própria vida ao serviço de uma causa cristã: a expulsão dos Mouros da Cidade Santa.

É, no entanto, defraudado pelos acontecimentos. O desfecho da guerra pela libertação de Jerusalém do domínio dos mouros não é o esperado e, quando Francisco regressa à sua terra, a sua sanidade mental e desgaste físico chocam todos aqueles que o amam.

Ironicamente é Francisco quem, no mundo dos vivos, vagueia à deriva na fronteira infernal entre a realidade e a loucura, assombrado por fantasmas e demónios…

Os religiosos, na época os médicos do espírito, diagnosticam-lhe possessão demoníaca e recomendam-no a um famoso exorcista: o Padre Adelmo.

Os métodos do padre Adelmo são eficazes.

Praticamente todas as almas se salvam depois de passarem pelas suas mãos.

Apesar de quase nenhuma sobreviver aos tratamentos…

Mas há uma alternativa.

O Irmão Vial, ex-soldado e ex-homem mundano, juntamente com o seu aprendiz – o irmão Lucas, prior do mosteiro de Santes Creus e amigo pessoal de Francisco -, tem um método muito pouco ortodoxo de exorcismo, que consiste em conversar e acalmar o possesso, tentando reconstituir o mapa da sua alma e apanhar o fio condutor que o desviou da realidade.

O caminho para a cura é como um labirinto de Creta que, sem o “fio de Ariadne”, composto pelas memórias do doente, seria impossível de encontrar.

Na Idade Média, o desconhecimento da Psicologia era total – esta só se constituiu como ciência a partir do séc XIX, altura em que se separou da Filosofia – muitas das neuroses e psicoses que então afectavam os seres humanos (personalidade múltipla, esquizofrenia, psicoses somáticas, paranóias, distúrbio bipolar, etc.) eram facilmente confundidas com possessão demoníaca. Daí recorrer-se à figura do exorcista que teria a função de “expulsar” esses mesmos demónios da pessoa afectada usando, para isso, na maior parte das vezes, métodos assaz violentos.

Consequentemente, o facto de surgir um exorcista com a metodologia de um irmão Vial ou de um irmão Lucas, com um método alternativo tão brando quanto eficaz, seria considerado, no mínimo, suspeito para não dizer revolucionário ou mesmo subversivo.

De facto, tomando como exemplo o caso de Francisco de Calatrava – o protagonista da história - , a sua morte seria útil a muita gente. Francisco sabe demasiado acerca daquilo que se passou no Oriente. Além disso, a sua apetecível fortuna é amplamente cobiçada…

Francisco é uma personagem que, se fosse real, e não a projecção da personalidade do Autor, seria a de uma pessoa bastante atípica no universo da nobreza espanhola do séc. XIII. Sensível, introspectivo e culto é, em contrapartida, um espírito rebelde, muitas vezes inconveniente, mais assertivo e até um pouco táctico, do que agressivo – como, por exemplo, quando prepara uma armadilha de forma a que o Abade do mosteiro seja apanhado na despensa em flagrante delito enquanto abusava sexualmente de uma adolescente.

Esta rebeldia, aliada a um carácter melancólico, faz com que Francisco, ainda antes de partir para a cruzada, se aproxime da bela, altiva e misteriosa Isabel, sua prima e alma-gémea, com a qual estabelece total empatia. Isabel tem a capacidade única de trazer Francisco de volta à realidade – antes e depois da fatídica cruzada.

Andrés, irmão de Isabel, primo de Francisco e seu principal aliado, é um jovem equilibrado, íntegro, com um sentido de humor e pragmatismo que, regra geral, trazem Francisco de volta à terra, embora de uma forma menos assertiva que Isabel. O seu espírito de aventura e desejo de fama e glória farão dele o companheiro de armas ideal para Francisco durante a guerra. Um verdadeiro Aquiles medieval.

O já referido Irmão Lucas, Prior do mosteiro de Santes Creus, antigo colega de Francisco, no tempo em que este esteve em reclusão no mosteiro, é um homem de origem humilde, ambicioso porém equilibrado, a ponto de a sua integridade superar os seus interesses. É nele que o reputado Irmão Vial delega a missão de cuidar de Francisco e elaborar o mapa da sua alma para escapar à tortura do sinistro padre Adelmo que o aguarda no caso de o irmão Lucas falhar.

O irmão Vial, exorcista muito pouco ortodoxo, é o mentor do irmão Lucas que, ao curar Francisco, encontra o caminho para a sua própria alma. Vial é extremamente corajoso, justo, racional, analítico e, sobretudo, incorruptível. Sendo aquele que orienta e dirige a conduta de Lucas – o principal adjuvante do protagonista – é uma personagem importantíssima para o desenvolvimento da história por ser a antítese total do vilão. Lucas é mais frágil porque os seus valores, só no final são totalmente consolidados. O que é fundamental já que é ele – Lucas – o narrador encarregue de transcrever e comentar as confissões de Francisco.

D.Fernando é o principal oponente de Francisco, filho bastardo do Rei, um homem venal, ambicioso, deseja o poder a todo e qualquer preço; assassino, sanguinário, um homem para o qual os fins justificam todos os meios.

A narrativa desenvolve-se dentro do estilo típico do romance histórico ao longo da qual o autor exprime os valores pelos quais tenta orientar a sua conduta: o respeito pela vida humana, a camaradagem entre os companheiros de guerra; a rebeldia e a insubmissão face a todas as atitudes prepotentes e a toda e qualquer espécie de abuso de poder, à corrupção, traduzindo-se no elogio à denúncia de qualquer acto de cobardia ou de violação dos direitos humanos.

Os capítulos que envolvem as actividades bélicas e as manobras tácticas são, talvez, um pouco longos, tornando o ritmo da história, por vezes, um pouco cansativo pelo facto de o leitor ver-se, desta forma, um pouco privado do contacto com as personagens mais interessantes, como por exemplo, Lucas ou a própria Isabel.

Em contrapartida, o capítulo passado na prisão infecta da cidadela de Acre é notável pela precisão e verosimilhança com que Eisner reconstrói um campo de refugiados ou de prisioneiros de guerra modernos, fazendo lembrar uma versão denotativa logo, mais imediata de “O ensaio sobre a Cegueira de José Saramago.

Uma promessa no universo da literatura norte americana.

Com um toque de rebeldia face à mentalidade dominante.

Uma picada de mosquito.

Conseguirá irritar a Besta-Fera?



Cláudia de Sousa Dias

7 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Dá vontade de ler.

6:58 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

è um romance histórico, normal com alguns capítulos que fazem lembrar os "Comentários" de César, por falar muito de guerra.

Mas dá-me a sensação que o autor é alguém que posssui valores elevados quer no aspecto ético quer na procura de uma forma superior de amar.

Nós projectamos sempre muito de nós naquilo que escrevemos, não concordas?

CSD

11:38 AM  
Anonymous Anonymous said...

Sim. Creio que pode acontecer. Mas creio também que projectamos muito dos outros, do que nos rodeia. E também projectamos aquilo em que cremos. Não obrigatóriamente aquilo que somos verdadeiramente. As vezes também aquilo que inventamos, imaginamos, sonhamos.

4:08 PM  
Blogger Maria Heli said...

Sim, também concordo com o comentário anterior.
Gostei mais uma vez do teu olhar sobre os livros.
E a "Dentada" quando sai?
bjos

9:49 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Caro anonymous,

Também é verdade, projectamos a nossa visão do meio que nos rodeia e as nossas experiências ou daqueles que nos estão próximos;

e quanto mais próximo de nós estiver o objecto sobre o qual estamos a trabalhar, maior o grau de veracidade que conseguimos transmitir e maiore a intensidade daquilo que escrevemos.

Penso que as nossas duas perspectivas se complementam...

Querida Maria!

Muito em breve.Eu tive esta semana um problema grave e ainda não consegui concentrar-me como deve ser. Mas já estou a meio da leitura portanto está por poucos dias...

6ª feira, no máximo!

Beijocas

11:53 AM  
Anonymous Anonymous said...

um (bocadinho) grande mas fixe

11:03 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Fico feliz que tenhas gostado, anónimo!

Excluindo a figura do padre, mencionada no texto,trata-se de um romance histórico com uma intriga que se desenvolve segundo os parâmetros cássicos,Walter Scott, mas com o estilo literário actual, obedecendo à linguagem padrão.

Bjo e obrigada pela visita

CSd

7:49 PM  

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