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Saturday, August 27, 2005

“A Casa das sete Mulheres” de Leticia Wierzchowski (Âmbar)


Já lá vão dois anos que vimos a série passar na televisão. A tranquilidade das férias que se avizinham permite-nos desfrutar de um romance de quase seiscentas páginas, com a devida atenção que merece uma obra literária desta têmpera.

Este é um romance épico, totalmente impregnado do romantismo tão ao gosto do séc.XIX, onde a trama e as personagens que a compõem lembram o intemporal Guerra e Paz de Leon Tolstoi.

O romance trata, essencialmente, da perseguição de um sonho, de um ideal: o da liberdade (para os escravos do Rio Grande do Sul) e o da autonomia e independência de um território face ao poder imperial que sangra os produtores da região com impostos e tarifas alfandegárias.

Bento Gonçalves da Silva começa por contestar a política económica do imperador do Brasil em 1835 e acaba por encabeçar uma guerra tão longa e tão trágica quanto aquela que foi cantada por Homero.

Curiosamente, Bento Gonçalves – líder da Revolução Farroupilha e, temporariamente, presidente da República do rio Grande do Sul, contou com o auxílio de uma personagem mítica na história da Europa moderna, que desempenhou um papel fundamental na unificação da Península Itálica: Giuseppe Garibaldi.

Garibaldi chega à Estância da Barra (o cenário principal onde decorre a acção e que é propriedade de Ana, irmã mais velha de Bento) com o objectivo de construir os barcos fluviais para exercer a actividade de corsário ao serviço da República riograndense. E aí conhece Manuela…

Mas quem é Manuela?

Manuela é a sobrinha mais jovem de Bento Gonçalves, filha da irmã deste, Maria Manuela. As três filhas de Maria Manuela - Rosário, Mariana e Manuela – vão, juntamente com Caetana (esposa de Bento) e respectivos filhos, viver temporariamente para a protegida e praticamente inexpugnável Estância da Barra, propriedade de Ana.

É neste idílico cenário campestre que a jovem Manuela irá narrar as crónicas de amor e de guerra relacionadas com a sua família e que estão na base da construção deste romance.

Trata-se de um episódio da História do Brasil, contado de uma perspectiva exclusivamente feminina, uma vez que toda a temática relacionado com actividades bélicas propriamente ditas, não foi directamente vivenciada pela cronista, mas narrada através do recurso a cartas e relatos dos seus familiares e amigos. Por este motivo, Manuela é, simultaneamente, uma narradora participante – quando fala das experiências vividas na estância, do quotidiano doméstico de sete mulheres que assistiram a dez anos de guerra num recanto edénico e não participante, quando narra aquilo que os outros viram, sentiram ou viveram em campanha, recorrendo quer ao discurso directo, ao introduzir o conteúdo integral das cartas que lhe foram confiadas, quer ao discurso indirecto.

Manuela é uma jovem romântica, que conta com quinze anos no início da guerra, invulgarmente “pensativa”, como a define, de uma forma algo depreciativa, a sua irmã Rosário.

Manuela possui, na realidade, uma inteligência e cultura muito acima da média, com uma clareza de raciocínio que lhe permite construir as crónicas que legaram a história da sua família e do Rio Grande para a posteridade.

Para além disso, Manuela tem uma capacidade invulgar de amar para além dos limites. A nobreza e o romantismo desta personagem fazem lembrar a Natasha do já mencionado romance de Tolstoi.

O estilo literário e o léxico de Manuela estão adequados à época, à região e ao estatuto sócio-cultural da personagem.

A narrativa está povoada de indícios e presságios como indica o dueto entre Manuela e Rosário, no primeiro capítulo, em cujas entrelinhas se pode perfeitamente ler o destino que marca a evolução dos afectos destas duas jovens. De facto, tudo indica haver nelas uma predisposição para amar da forma como amaram: o altruísmo e o egoísmo nas suas formas mais extremas.

Manuela é uma personagem completamente sibilina, intuitiva, tal como as suas tias Ana e Antónia. O cenário telúrico, o sol vermelho, as cores vivas da paisagem, o agreste vento de Inverno – o minuano, cujos gemidos chorosos arrasam com os nervos das mulheres da Estância da Barra e remetem para a atmosfera funesta de O Monte dos Vendavais de Emily Brontë –, sendo este quase sempre o arauto da tragédia.

Rosário, a irmã mais velha (que não é, nem de longe, a personagem doce, de que nos lembramos na série televisiva), é uma jovem cuja estabilidade emocional não resistiu aos condicionalismos e, muito menos, ao isolamento imposto pela guerra.

Secretamente, pois não o admite nem para si própria, culpa o tio pela guerra que a obriga a ficar confinada na Estância, longe dos olhares dos admiradores que poderia conquistar na Corte.

É esse o motivo que a leva a projectar o seu medo e ódio na figura de Steban – o jovem oficial que, supostamente, teria sido morto pelo tio.
Steban representa, na mente de Rosário, a sua oportunidade de fazer um bom casamento na corte, oportunidade esta que é vetada pela posição política do tio.
O jovem é produto da imaginação febril de Rosário e das suas emoções recalcadas e distorcidas. A cisão com a realidade acentua-se. Rosário enlouquece de forma irreversível, vítima de esquizofrenia.

Mariana é a mais feliz e independente das três irmãs. Esta última característica permite-
-lhe encontrar e lutar por aquele a quem ama e que também está disposto a lutar por ela.

Ao contrário de Manuela que está afectivamente mais presa à família.

Talvez por isso, Garibaldi não insista em enfrentar o General Bento, por sentir que ao acompanhá-lo Manuela deixaria parte de si mesma com os seus e ele deseja uma mulher que seja como as filhas de Loth, que tenha a possibilidade de partir para qualquer lugar sem olhar para trás.

Mariana não hesita em deixar a companhia amarga e castradora da mãe e este facto é, talvez, determinante para o cumprimento do seu destino. É por este motivo que o episódio de Mariana e João inclua algumas das mais belas cenas da obra.

As tias são as grandes adjuvantes de Manuela e Mariana, sobretudo a Tia Antónia, que auxilia as duas sobrinhas nos seus momentos mais difíceis.

A tia Ana, a matriarca, é o general doméstico que comanda toda a logística da quinta, interna e externa.

Por todos estes motivos, vale a pena aproveitar as férias para ler A Casa das sete Mulheres, uma obra que fala de sonhos. De utopia, de amor e de liberdade.

Palavras, talvez, sinónimas.

Cuja identificação não figura, porém em nenhum dicionário.


Cláudia de Sousa Dias

3 Comments:

Blogger Claudia Sousa Dias said...

Obrigada Ana!

Acabei de publicar este mesmo artigo num jornal local em Vila Nova de Famalicão! Foi um livro do qual gostei especialmente de ler!

Um abraço e muito obrigada pela visita!

CSD

6:13 PM  
Blogger lelinha said...

Vagando pela net encontrei o seu blog muinto interessante, Vi a novela a casa das sete mulheres amei!!!, vou comprar o livro actualmente estou lendo o livro de uma autora australiana Collen McCullough "Passaros feridos" the thorn Birds conhece???? o filme é lindissímo apaixonante...
o livro é de fácil leitura, que cativa e emociona da primeira a ultima página.

Existe uma lenda acerca de um pássaro que só canta uma vez na vida, com mais suavidade que qualquer outra criatura sobre a Terra. A partir do momento em que deixa o ninho, começa a procurar um espinheiro, e só descansa quando o encontra. Depois, cantando entre os galhos selvagens, empala-se no acúleo mais agudo e comprido. E, morrendo, sublima a própria agonia e solta um canto mais belo que o da cotovia e o do rouxinol. Um canto superlativo, cujo preço é a existência. Mas o mundo inteiro pára para ouvi-lo, e Deus sorri no céu. Pois o melhor só se adquire à custa de um grande sofrimento... Pelo menos é o que diz a lenda.
[...]
O pássaro com o espinho cravado no peito segue uma lei imutável; impelido por ela, não sabe o que é empalar-se, e morre cantando. No instante em que o espinho penetra, não há nele consciência do morrer futuro; limita-se a cantar e canta até que não lhe sobra vida para emitir uma única nota. Mas nós, quando enfiamos os espinhos no peito, nós sabemos, compreendemos. E assim mesmo fazemo-lo.

Beijos.

5:21 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

via a série mas não li o livro. Era com Richard Chamberlain e Rachel Ward.

Da Autora só li os primeiros cinco volumes de "O Primeiro Homem de Roma" uma fabulosa saga sobre a queda da República e a transição para o Império.

7:55 PM  

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