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Wednesday, April 13, 2011

"A Aurora dos Bem-Amados" e "O Grande senhor" de Louis Gardel (Bizâncio)

Tradução de Clara Alvarez



Louis Gardel é um conhecido guionista francês e, também, que também gosta de escrever ficção. A presente obra é a história de uma saga respeitante às vicissitudes e intrigas palacianas no Império Otomano, escrita aqui em dois volumes, onde, a par da sucessão de dois monarcas ficamos a par de uma visão mais realista de um grande senho que deu origem à terrível lenda do Conde Drácula...
Louis Gardel foi, ainda, vencedor do prémio da Academia Francesa em 1980 com o romance "Fort Saganne". Em A Aurora dos Bem-Amados, o Autor dá a conhecer como se estabeleciam as relações de amor, amizade e poder, num cenário das mil e uma noites. A intriga gira em torno de um agitado período da História do Império Otomano, envolvendo os conflitos palacianos em torno da amizade do Sultão Solimão - mais tarde cognominado de O Magnífico - pelo seu homem de absoluta confiança, Ibrahim (um ex-escravo grego, obrigado a converter-se ao Islão na adolescência, que ascende posteriormente à posição de grão-vizir, braço direito do Sultão) e da sua paixão pela bela e cativante escrava Hurren (oferecida ao sultão por Ibraim), mais tarde convertida em Imperatriz. A estes dois sentimentos, amor e amizade, irá inicialmente aliar-se o Poder, que passará, depois, a dominá-los - tanto a Solimão como a Ibrahim - e, por fim, a submetê-los. Louis Gardel dá a entender, de uma forma muito simples e clara que são, na verdade, estes três ingredientes, a mola impulsionadora do curso da História, ao deixar entrever os meandros das intrigas do Serralho, os sangrentos conflitos relacionados com a luta pela sucessão ao trono (que inclusive, passa por cima de laços de parentesco muito próximos e acabam por degradar toda e qualquer forma de amor ou amizade), bem como as relações entre o Império Otomano e o Ocidente (que interferiren com as ambições de Carlos V e a pretensão ao domínio dos mares pela Sereníssima República de Veneza). É desta forma que a luta pelo poder se irá transformar numa impiedosa luta pela sobrevivência, num ambiente em que o Medo e a Inveja acabam por dominar as consciências: uma psicose social que é reforçada por um sistema que permite a ascensão ao trono baseando-se não na sucessão do filho mais velho, mas na nomeação do membro da família considerado mais capaz, alçgo que se torna, na prática, na sobrevivência da "águia" mais forte, ou o "falcão"mais implacável. O harém é outro ninho de víboras, devido à rivalidade entre os clãs oriundos das "proles" das diferentes esposas do Sultão. As intrigas e mexericos sucedem-se. Neste romance sobressai, mais do que tudo, a ideia de que, o gozo do favoritismo, quer seja concedido pelo cargo, quer pelo casamento ou concubinato, implica um estado de vulnerabilidade, face a todo um conjunto de armadilhas políticas que podem culminar na morte dos, até então, hiper-privilegiados. Uma história que, apesar de ocorrida na Turquia do séc.XVI, tem a frescura do vento da actualidade.
Em O Grande Senhor é destacado o amor obsessivo pelo Poder e a secundarização do amor nas suas múltiplas facetas.

Neste romance, que é a sequela de A Aurora dos Bem-Amados, Louis Gardel analisa, num texto de grande densidade psicológica, a evolução do reinado de Solimão, o Magnífico, rei supremo do Império Otomano. O livro explora a dimensão psicológica do conturbadíssimo reinado deste monarca, explicando as motivações mais profundas que o levam a condenar à morte, o filho mais velho, Mustafá, em cuja popularidade vê, simultaneamente, uma ameaça e uma afronta ao seu poder absoluto. Mais tarde assiste, impotente, ao afundar de Cihangir, o seu filho favorito, no abismo da depressão. A perda de Cihangir, deficiente físico e, por isso, incapaz de se tornar um rival, é um duro golpe para este imperador despótico, consciente de que este jovem frágil foi, talvez, o único ser humano que o amou de forma incondicional. Por outro lado, a sua relação com a Imperatriz Russiana, ou Hurrem, a Feliz, sofre também uma série de turbulências dado o carácter manipulador e o apurado instinto de sobrevivência desta soberana que tenta, pelos meios mais tortuosos, fazer com que o Sultão abdique, nomeando o seu filho Bajazeto como seu sucessor. A Imperatriz, mesmo depois de destituída da beleza e do temperamento dominador, consegue, já no outono da sua existência, recuperar o amor do sultão para morrer pouco tempo depois. O que não a impede entretanto de usar essa proximidade para fazer valer os seus interesses. Esta é uma morte que, tal como a de Cihangir, não deixa Solimão indiferente, pois trata-se dasua grande paixão da juventude. Frustradas as tentativas de Russiana para fazer Bajazeto ascender ao Sultanato, devido às armadilhas políticas engendradas pelo seu corrupto e maquiavélico irmão Selim, o Bêbado, Solimão, vê o seu filho mais velho ser estrangulado por ordem de Selim, juntamente com os seus cinco netos, filhos de Bajazeto. Minado pela doença, Solimão consegue ainda, como prémio de consolação, consolidar o seu domínio na região dos balcãs até à Hungria - situação geopolítica que gera o embrião que eclodirá, muito tempo depois, já no sec. XX, em alguns dos mais graves e intrincados conflitos ocorridos na Europa com repercussões a nível mundial (a 1ª Grande Guerra de 1914/18 e a Guerra dos Balcãs já na última década do século passado). Próximo do fim , com as articulações paralisadas pela ancilose, perdido no deserto da solidão do Poder Absoluto, o monarca reencontra em Efraim, o pequeno judeu corcunda, cujas mãos o aliviam das dores atrozes que atormentam os últimos dias da sua existência, a sua derradeira fonte de afecto. Na deficiência física deste assistente do seu médico pessoal, o Sultão recorda o malogrado filho Cihangir. Antes do fim, consegue, ainda, acabar com o último foco de resistência cristã em Szigetvar, minando a resistência da Cidade onde se encontram os Soldados de Deus que, tal como os soldados de Allah, não hesitam quando têm de escolher entre o paraíso e a desonra. Expira, sem o conhecimento do seu exército, mantido na dúvida até chegar a Istambul pelo fiel Efraim, onde se procederão as exéquias. Solimão morre vitorioso, às portas da Europa e do Ocidente, mas afastado dos descendentes que lhe restam: Selim, o filho corrupto que despreza e Mihirimar, uma cópia patética de Russiana, cuja alma alimentada pelo fanatismo religioso pretende compensar o deserto afectivo que a rodeia. Solimão, consegue, apesar de tudo, ter por companhia nos seus últimos momentos, alguém capaz de uma dedicação sem precedentes e desinteressada. Um drama das mil e uma noites que pretende transmitir a mensagem de que, por vezes, a felicidade está na palavra Renúncia. Um romance sublime para quem gosta de mergulhar nas raízes da História e descobrir o mundo actual. Cláudia de Sousa Dias.

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2 Comments:

Blogger M. said...

Não era Selim, era o álcool...
Parece-me uma excelente narrativa, aqui brilhantemente resumida, como se estivesse a vê-la em filme ;)
Beijinhos, boa quarta!
Madalena

10:36 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Pois era...Beijinhos e obrigada!

2:32 PM  

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