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Thursday, September 01, 2011

"Viagem ao ponto de fuga" de Fernando Campos (Difel)


Uma colectânea de mini-contos para todas as idades onde se persegue a vida e a felicidade ao longo de uma estrada infinita...


O ponto de fuga é aquilo que, em pintura, se pode chamar de "ponto de convergência" e nos dá a ilusão de perspectiva. Este é o denominador comum das estórias contidas na obra composta por uma irresistível colectânea de mini-contos da autoria de Fernando Campos cujas publicações como A Casa do Pó e A Sala das Perguntas" estão já traduzidas em várias línguas. Nesta publicação, Fernando Campos tem o mérito de conseguir aliar a pintura à escrita, onde o ponto de fuga tanto pode ser a barraca longe da civilização urbana para onde se evade uma família lisboeta durante as férias, como o lugar, algures no infinito, para lá da linha do horizonte, onde duas rectas paralelas parecem encontrar-se, na fábula de Esopo, reiventada pelo autor - Aquiles e a Tartaruga.

O ponto de fuga, explicado com todas as letras no terceiro conto - A Caminho de Monsaraz"-, no qual o pintor\narrador explica demonstra a forma de encontrá-lo, ao volante do carro, a caminho da povoação alentejana.

O Autor, ao utilizar uma linguagem extremamente depurada, socorre-se da sua à sua extraordinária criatividade e vastíssimas referências culturais, relacionando conceitos tão abstractos e complexos como a Beleza, a Justiça, a Fraternidade e a Liberdade, brinca com as palavras, recorre ao uso de trocadilhos e lendas populares despertando, como que por magia, o interesse do leitor médio para as coisas mais eruditas.

Alguns dos contos são relatados em formato de poema como Luva Branca, no qual a fonte de calor é o ponto de fuga para onde converge a atenção do gato; e Tudo é possível excepto... - um poema filosófico sobre a perseguição da sabedoria absoluta como o ponto de fuga da história do saber.

O ponto de fuga pode situar-se, também, ao fundo da Rua da Alegria onde no refúgio do lar; pode ser o Paraíso, sem estar necessariaente localizado no céu bíblico, podendo ser até mesmo o próprio Inferno, se lá residirem aqueles que amamos.

Pode ser o lugar onde se evade a alma quando abandona o corpo - No cume da Montanha. Ou o Amor para a mente cartesiana dos Matemáticos em Números.


Em Flor de Estufa multiplicam-se as significações. Aqui podemos encontrar o ponto de fuga num templo de vidro, no meio dos Eucaliptos ou, a nível filosófico, na Verdade absoluta para onde tentam inclinar-se as opiniões das diferentes personagens. Ou a cor Branca, como reunião de todas as cores existentes... e, por último, o buraco no tecto de vidro para onde convergem os olhares de todas as plantas na ânsia de respirarem o ar livre sem o condicionamento da estufa, um cheirinho do conhecimento da realidade...

No conto intitulado Regressos o ponto de fuga é a linha do horizonte no quintal de uma casa em Lisboa onde se pode observar o mergulho de Febo no Oceano, após a corrida desenfreada pela Europa fora. O ponto de fuga situa-se, neste caso, onde o sol desaparece e está depositada a cultura lusitana, com todas as suas camadas, à semelhança do que acontece em geologia.

Um livro que tem a particularidade de desencadear ondas de choque no pensamento de quem o lê, à semelhança do impacto de um meteoro, cuja virtude está na simplicidade da linguagem e na construção frásica, partindo de de raciocínios simples e concretos para chegar, gradualmente, às formas de pensamento mais complexas e abstractas.

Fernando Campos estabelece a ponte entre a literatura, a pintura e a filosofia, unindo-as através de linhas que se interceptam e entrecruzam como teias de aranha.

Viagem ao ponto de Fuga é um concentrado de sabedoria, um perfume de "sophia" em estado puro.



Claudia de Sousa Dias

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1 Comments:

Blogger Claudia Sousa Dias said...

2 Comments (2005):
Anonymous said...
Fernando Campos é um dos maiores escritores portugueses vivos. É bom que haja gente atenta à sua obra. Parabéns pelo post!
www.tapornumporco.blogspot.com
12:41 AM
Claudia Sousa Dias said...
Obrigada e ainda bem que alguém repara neste post porque FC é um dos meus escritores de eleição!


CSD
11:22 AM
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