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Thursday, January 01, 2015

Egoísta 52 – Revolucionar


Esta é, ainda, a edição de Abril, que aqui posto por ainda não me ter chegado às mãos a edição deste Natal, a dos Anjos, a quel espero adquirir ainda antes de acabarem as férias.

A capa deste número lembra um grafitti – o conteúdo, no entanto está longe de se assemelhar ao do ensaio fotográfico da outra revista, de ciência sociais, que foi alvo de censura neste ano que agora finda, mas contém uma refrescante e saudável dose de rebeldia.

Através desta edição da Egoísta é-nos dada a conhecer a perspectiva, em cores bastante diversificadas, das várias vozes literárias relativamente à forma como vêm a revolução (a de '74) ou a uma revolução. Há textos sublimes, outros mais prosaicos, há entrevistas que são autênticos documentos históricos, fotografias que se tornam autênticos testemunhos de momentos-chave, imortalizados na fracção de segundos de leva o disparo de um flash, e outras que são a mais pura expressão do livre exercício do movimento, da emoção, do pensar, da palavra.

Comecemos então pela perspectiva que é vertida no editorial de Mário Assis Ferreira, uma reflexão sobre o que mudou ou deixou de mudar na mentalidade colectiva portuguesa nos últimos quarenta anos.

Para João Vilhena a revolução é aquilo que fazem todas as aves – sair da casca. É o que sugere a série de fotografias que apresenta na Revista, intitulada “Egg Series”. Na verdade, algumas voam mal rompem o invólucro onde decorre a sua gestação. Outras nunca chegam a fazê-lo, como a avestruz. No entanto, todas rompem a casca para enfrentarem o mundo “cá fora”.

Eduardo Lourenço é entrevistado por Ana Sousa Dias e fotografado por Alfredo Cunha advoga que “a liberdade é uma luta sem fim”. Uma luta pela qual se paga um preço, em regra muito elevado. Este filósofo, actualmente a residir em França, disserta em Diálogo com Ana Sousa Dias, a forma como é encarada a Liberdade ao longo das várias épocas da História.

Lídia Jorge apresenta um excerto do seu último romance “Os Memoráveis” onde,  a propósito de Liberdade, fala de euforia, memória, esquecimento e desilusão.

Segue-se o texto “Abril” de Ana Sousa Dias a servir de legenda a uma foto-reportagem de Alfredo Cunha. O texto é precedido de um dístico de Paul Nizam, retirado do Livro Aiden-Arabie, à laia de epígrafe, para estabelecer um paralelismo com as Primaveras Árabes, sublinhando a divergência entre ambos os contextos histórico-políticos e sociais. Trata-se de uma crónica de momentos-chave que iriam despoletar profundas transformações no país nas décadas seguintes e cujas consequências se verificaram a nível demográfico, económico e sobretudo social.

Certa noite em Vildands Vägen” é o título de Mário de Carvalho, para este número. Trata-se de uma crónica do dia da Revolução, contada a partir do exílio e dos ecos que vão chegando ao narrador pela rádio, naquele que parecia ser um dia igual a tantos outros, no quotidiano daquela cidade sueca.

O primeiro intervalo visual chega-nos com as imagens de Jorge Colombo e daquilo que lhe parecia ser a vista de uma grande metrópole – Tóquio ou Nova Iorque – a que chama de “Constelações – pintura digital.

A seguir é tempo de poesia com Manuel Alegre e o poema “1940 Dunquerque”, um episódio do tempo de Segunda Guerra Mundial em que se vê envolvido um grupo de jovens portugueses; é o poema da Libertação, de um apelar à renovação de um Abril de outros tempos.

Lídia Jorge volta à liça para presentear os leitores com um texto inédito em prosa que se pode ser como se de poesia se tratasse – é, na verdade, poesia – “Às vezes, pela tarde” para mostrar “como se rasgam os limites”.

A fotógrafa Annie Leibovitz traz um conjunto de fotografias que pressupõem novas formas, revolucionárias, portanto, de olhar o mundo, o espaço, o futuro, a vida, a Arte.

Sobre um fundo rosa-coral ou rosa-flamingo, a irromper em letras brancas, o poema “incipit” de José Manuel Mendes, remete para o discurso de insubordinação de Natália Correia “Não percas a rosa”.

Outro poema em prosa é-nos trazido pela pena de Nuno Júdice, que nos transporta ao período do Império Romano, época em que revoluções se tingiam de sangue, empapando a terra e manchando as casas de vermelho,  do sangue dos que caíam em batalha ou sucumbiam a intrigas palacianas.

O dia em que” é o título do texto de Maria Manuel Viana a falar de “uma mulher banal”, onde a voz da narradora traz o arquétipo oposto ao da “mulher fatal” ou ao da “mulher genial”, mas que sente um inquietante impulso de fazer algo de extraordinário, ou de transgredir, mas que lhe falta sempre a inspiração. Essa mulher sente, por isso, necessidade de criar personae que a superem e por isso estas, tal como acontece no inquietante conto de Andersen “A Sombra”, acabam por tomar conta da sua vida, sobrepondo-se-lhe.

A seguir, novamente um intervalo. Desta vez, de escuridão. “Blackness”, de Pedro Ferreira. Trevas profundas de onde emerge a luz de um olhar, pele ou cabelo, evadindo-se, revolucionariamente, insubordinadamente, a partir do mais negro abismo.


E assim se chega a um dos melhores textos deste número da Egoísta, um excerto de uma obra de Teolinda Gersão, “Paisagem com mulher e mar dentro”, no qual só é dado a perceber o quanto depende uma família extremamente rica dos seus serviçais e do labor da classe trabalhadora. E ao lê-lo, percebemos também o quanto essa consciência mudaria o seu quotidiano e provavelmente todo o sistema social, calibrando o peso de todos os estratos, ao pôr em causa o excesso de poder de qualquer um destes.

Luís Barros aceitou para este número da revista o desafio de escrever sobre um tema que o apaixona e, por isso, ligado à ideia de liberdade: aquela que se liga ao acto de amor que consiste em deixar alguém partir, abdicar da presença do ser amado. Um texto que fala da dor desencadeada por algo que despoleta uma revolução no quotidiano, consequência de uma outra, a de carácter político.

A “Rita” de Valério Romão é a revolução causada por uma vida que se esvai nas mãos de um profissional de saúde e lhe muda radicalmente a forma de olhar a profissão, o trabalho, a família, o amor, a vida. Nada é igual e o quotidiano da personagem, que é também o narrador, é constantemente assombrado pelo fantasma de Rita.

Segue-se mais um intervalo fotográfico, com a expressividade das irreverentes fotografias de Carlos Ramos.

Depois, João Tordo mostra o Eu de um narrador cuja percepção do mundo que o rodeia é alterada de tal forma que as coisas que antes pareciam levar ao caminho da felicidade passam agora a ter um valor relativo. O caminho para lá chegar já não é o mesmo e, se calhar, haverá que alterar a rota, ao tomar a consciência de que perseguir a liberdade pode sempre tornar-se uma prisão e que aquela, quanto mais se busca mais se lhe escapa.

Outro intervalo se segue, desta vez intitulado de “Waves”., da autoria de Nick Selway, um ensaio fotográfico de grande beleza cromática com o azul do mar a representar a Liberdade e a Insubmissão inscritas nas ondas, ora moldando a costa ora reclamando o seu território.

Raquel Serejo Martins conta, em estilo quase telegramático, a vida de um homem que nasceu em 1914, o ano em que estalou a Primeira Guerra Mundial e passa por um atribulado conjunto de peripécias, interligando acontecimentos históricos e pessoais até chegar a 2014. A.D. Mas já sem fôlego para novas revoluções.

Alex Harper apresenta mais um ensaio fotográfico intitulado "Private Act", este a preto e branco, onde se dá lugar à liberdade de expressão dos corpos no esplendor da sua nudez em poses que desafiam as convenções.

A “[R]evolução” de João Adelino Faria contém um trocadilho que opõe a palavra “Revolucionar”, tema da revista, à palavra “Reformar”, sendo que a primeira é consequência de uma evolução e a segunda o sinónimo de estagnação. O Autor caracteriza, através de um pertinente exercício de reflexão, várias gerações que pretenderam, de alguma forma mudar o mundo.

Jumping” é o novo ensaio fotográfico, o último deste número da Egoísta, a mostrar o corpo em movimento, desafiando a lei da gravidade numa atitude de revolucionária insubmissão, da autoria de Stéphane Giner.

O último texto é uma obra-prima de Miguel Mesquita que dá pelo título “A Casa dos Vazios” ou de como diante de uma crise de liderança há sempre aqueles que se valem da esperteza para levar a sua avante face aos que não têm coragem para revolucionar o quotidiano e virar a vida do avesso, escravizando-se pela eternidade.

E assim termina a Egoísta de Abril de 2014, desta vez subordinada a um verbo cada vez mais em desuso e de aplicação cada vez mais rara em países democráticos e habituados à paz.

E como estamos ainda em época festiva devido ao fim-de-ano desejo-vos uma excelente 2015.


Cláudia de Sousa Dias
07.12.2014


9 Comments:

Blogger Claudia Sousa Dias said...

no mural de CSD

Francisca Maia e Helder Magalhães gostam disto.

Graca Monteiro agora postam no facebook
5 h · Não gosto · 2

Claudia De Sousa Dias pois é. Mas os posts do face desaparecem. Enquanto que no blogue ficam sempre guardados no arquivo.
3 h · Gosto

11:12 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Duas pessoas gostaram deste post no mural "o que andamos a ler?"

2 pessoas gostam disto.

Luisa Jardim
9 amigos em comum

Adicionar amigo/a
Raquel Serejo Martins
45 amigos em comum

4:53 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

No mural "o que andamos a ler?":

Luisa Jardim A número 53 é magnifica!
5 min · Gosto

Claudia De Sousa Dias Vou comprá-la logo que a Livraria a receba.
Agora mesmo · Gosto

4:58 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Luisa Jardim Acrescento, a editora da revista, a escritora Patricia Reis, é maravilhosa!
2 min · Gosto

Claudia De Sousa Dias Sim, tem feito um trabalho excelente ao longo destes anos todos. É um elemento imprescindível na equipa.
Agora mesmo · Gosto

5:03 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

No mural de CSD há mais uma pessoa a gostar do post:


Beatriz Hierro Lopes gosta disto.

7:36 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

E também na página "Livros no Facebook":

Raquel Serejo Martins e Ricardo Figueiredo de Carvalho gostam disto.

1:11 AM  
Blogger M. said...

Obrigada pela divulgação! A ver se palmilho a próxima Egoísta :)
Beijinhos

4:07 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Tens de a encomendar. Eu vou receber a minha na 100ª página. Espero que para a semana que vem já lá esteja.

8:10 PM  
Anonymous Anonymous said...

Claudia, como a posso contactar? :-)

9:00 PM  

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