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Saturday, April 30, 2016

"Plenilúnio" de António Muñoz de Molina (Editorial Notícias)




Tradução de Mário Ventura


Vida e obra

O Autor do livro de que falamos hoje, Antonio Muñoz Molina para além da carreira dedicada ao Jornalismo e ao Ensino, tem publicada uma vasta obra literária a qual lhe granjeou já vários prémios, sendo também membro da Real Academia Espanhola. Como cronista, atingiu notoriedade com a coluna assinada nos jornais Die Welt e El País. De entre os títulos de obras literárias publicadas destacam-se: O Inverno em Lisboa (Prémio Nacional da Literatura e Prémio da Crítica, 1988), Beltenebros, o Cavaleiro Polaco (Prémio Planeta e Prémio Nacional de Narrativa, 1992), Mistérios de Madrid, Nada do outro Mundo, O Dono do Segredo, Ardor Guerreiro, El Robinson Urbano e La Suerte del Éden. Para ele, o jornalismo e a literatura, são actividades afins, às quais junta ainda o interesse pela História da Arte, disciplina que chegou a leccionar na Universidade de Granada, sendo que todas elas têm a escrita como denominador comum. E é precisamente nesta região do Sul de Espanha, a Andaluzia, que vamos encontrar o local principal de acção de Plenilúnio, o romance de trata este post e que foi, inclusivamente, adaptado ao cinema.

A temática e a génese da trama

Segundo as palavras do autor, retiradas da entrevista dada a Justo Serna e publicada no respectivo blogue, www.ojosdepapel.com a ideia para o romance, que o autor dedica à sua esposa, a escritora Elvira Lindo, havia surgido da seguinte forma:

Las primeras pistas sobre (…) “Plenilunio” las tuve en 1987”. Muñoz Molina há declarado que reparó en una fotografia publicada en un periodico americano de un individuo de rostro bondadoso acusado de un crímen horrible quando estaba com “El Jinete Polaco”, a raíz de una noticia concreta que le impresionó. Esto le llevó a cuestionarse si los rasgos del rotro y muy especialmente de la mirada, delatan la conciencia del mal.


E assim surge o embrião do protagonista de Plenilúnio, um detective cuja vida pessoal está devastada pelo terrorismo levado a cabo pela ETA e, por isso, é transferido do País Vasco, mais propriamente da cidade de Bilbao. Trata-se de um homem habituado a trabalhar casos relacionados com terrorismo e situações de violência extrema, criminosos aos quais é normalmente difícil seguir o rasto. A acção situa-se nas décadas que se seguiram imediatamente à queda do franquismo, em plena transição democrática mas em termos espaciais há uma modalização: o local onde se movimenta o protagonista oscila entre Bilbao e o sul do País onde é incumbido da missão de desvendar um crime de natureza sexual que tem vindo a horrorizar a população de uma pequena cidade anónima na Andaluzia: uma menina, de nome Fátima, aparece morta após ter sido sadicamente violada e mutilada. A aparente invisibilidade do assassino desperta o terror e o pânico na população local, ao mesmo tempo que deixa que um rasto de pânico tome conta das suas vidas. Pelo menos até o assunto ser parcialmente esquecido e o predador voltar a atacar. Os crimes ocorrem sempre em noite de lua cheia – de plenilúnio.

Ironicamente, fora a necessidade de uma vida mais calma e obtenção de um quotidiano de relativa segurança, impossíveis de serem à época usufruídos pelo polícia em Bilbao, aliados a um sentimento de desalento provocados pela degradação da estabilidade psicológica da esposa e a impossível tensão psicológica,gerada a partir do trabalho de inspector que o levam a esta cidade onde supostamente encontraria alguma paz, até pelo facto de se tratar da cidade onde passou a adolescência num internato jesuíta. No entanto, pouco depois de chegar o inspector, ao deparar-se com este caso de contornos macabros, irá imediatamente activar os traços obsessivos da sua personalidade fazendo do predador sexual e assassino a sua própria presa. Na verdade um e outro são, herói e vilão, implacáveis predadores, embora com uma única diferença que os coloca em pólos opostos: a compaixão e empatia no primeiro que está totalmente ausente no carácter do segundo. E é nesta dicotomia, que Muñoz Molina constrói toda esta narrativa polarizada. Nesta polarização assenta toda a progressão da intriga, aumentando a tensão e os suspense até a um ponto quase insuportável até se chegar, por fim, o desenlace da trama, a um posterior anti-clímax, seguindo-se um inesperado fazendo jus ao desenvolvimento espelhado de ambas as personagens que se opõem, com um destino igualmente trágico para ambos.

A narrativa ou os vários planos narrativos que se interceptam

No site da Fnac1 comenta-se que:

Este livro não é apenas um policial com personagens extremas, é, também, um ensaio sobre as várias camadas de uma sociedade apodrecida, onde há homens e mulheres que procuram uma urgente resolução para os seus problemas, mas os agravam nessa procura.

A trama é desenvolvida a partir de dois pontos de vista antagónicos, vertidos na terceira pessoa, um narrador omnisciente, em cujo discurso estão embutidos os pensamentos de dois outros enunciadores secundários – duas vozes citadas indirectamente pelo narrador de terceira pessoa o qual é conhecedor de todos os estados anímicos do herói quer do vilão. Estes dois enunciadores têm ambos a sua actividade e pensamento totalmente focalizados na respectiva obsessão: um deles, não apenas na de encontrar o rasto do criminoso, mas sobretudo na compreensão da natureza do mal (daí a compulsão em procurar o olhar do assassino, saber como encara as pessoas, o mundo, a sociedade); e o outro, que exprime no discurso, além do prazer da perseguição das presas, uma inexcedível fome de poder e vingança face à sociedade a qual, no seu entender, lhe nega as oportunidades e o destaque de que julga ser merecedor. O sentimento de impunidade que inscrito no discurso que lhe é imputado reforça-lhe a conduta e a auto-confiança, estimulando-o a prosseguir no mesmo caminho, assenta numa falsa sensação de segurança que lhe advém da semi-invisibilidade, a coberto da noite de lua cheia, sua cúmplice e testemunha. Esta pseudo-invisibilidade funciona como elemento de distorção do real, tornando possível o estímulo a uma conduta que baseada numa atitude de imprudente soberba, lhe permite arriscar cada vez mais.

Plenilúnio pode ser classificado como um romance negro, uma história trágica, onde o discurso antagónico de ambos os enunciadores, que o narrador convoca e incorpora no seu próprio discurso, alimenta a trama policial. Mais: estes discursos polarizados de ambos as personagens alimentam-se mutuamente, canibalisticamente, mantendo a tensão a um nível quase insustentável de forma a prender o leitor que segue o fio da trama de forma quase tão obstinada quanto as personagens perseguem os seus próprios fins. Esta tensão só é aliviada de quando em quando, pelo entrecruzar de outros planos narrativos, como o relato da vida passada do narrador no País Vasco ou o desenvolvimento da relação amorosa deste com Susana, a professora de Fátima.

Esta é, no entanto uma escrita que exige um leitor paciente, que goste de processar a escrita frase a frase, seguindo o fio condutor e a linha de pensamento das personagens. Vários leitores apontaram, já, esta característica do romance, chamando a atenção para o ritmo pausado em que se vai desenrolando a trama e, simultaneamente, para o grau de introspecção das personagens principais2.


Tempo e espaço: relação entre a época, o contexto histórico-social e o local da acção para a construção de um romance de costumes tingido de “negro”

Poder-se-á dizer que Plenilúnio surge no nosso universo como um dos melhores romances policiais que surgiram nos últimos quinze anos, apesar de o autor preferir não enquadrar a obra neste género narrativo mas olhá-la antes como um romance de costumes ou o retrato social de uma época. O plot anda à volta de um assassinato na Espanha pós-franquista, na altura em que o activismo terrorista da ETA atravessava a sua fase mais agressiva e mediática, invadindo os telejornais e obrigando o estado espanhol a manter as suas forças de segurança em alerta máximo, sendo que é neste contexto histórico-social que vamos encontrar o protagonista.

A cidade para onde é transferido o inspector e onde ocorre o crime nunca é nomeada, mas são vagamente descritos a sua localização no território e relevo. O narrador menciona tratar-se de uma cidade “alta e interior”, no vale do Guadiana e os subúrbios ou arredores da mesma onde decorrem vários episódios da acção descrevem uma paisagem muito semelhante à do Alentejo, árida e tórrida semeada de sobreiros e olivais. Serrano (2010) arrisca dizer que se trata de Úbeda, cidade Natal do autor, a que Molina atribui a designação literária de Mágina nos seus romances e onde se pode facilmente identificar alguns elementos característicos dessa mesma cidade como a estátua do General Franco, o parque de Cava ou a parte renascentista da mesma.

Para datar a acção no tempo também é necessário usar o método dedutivo, por via indirecta, que permite situar a acção na primeira metade dos anos '90 do século XX. O facto de o romance ser publicado pela primeira vez em 1997, faz com que a acção só possa ser anterior a essa data, e a localização de todas as referências ao franquismo no passado, colocam a acção no intervalo de tempo entre 1975 e 1995 pela referência a factos contemporâneos nas vozes quer do narrador quer das personagens como a guerra na antiga Jugoslávia, ocorrida no início da última década do século XX. Nota-se também a influência do modus operandi e secretismo do assassino com o do filme “O Silêncio do Inocentes”, referido também no texto pelo narrador e do assassino de O Perfume de Patrick Süskind, romance que teve grande impacto no público apreciador de literatura contemporânea na mesma época, apesar de publicado alguns anos antes (1985).

A par disto, o romance dá especial destaque a vários temas que apaixonavam a opinião pública, alguns deles tratados como tabu em décadas anteriores na Península Ibérica: a violência e abuso sexual de menores, a caducidade das relações pela extinção dos pilares afectivos em que assentam, o terrorismo e a forma insidiosa como este vai corroendo a vida dos cidadãos que são directamente por ele afectados. Sem esquecer a dissecação e exposição detalhada da forma de pensar do criminoso, mostrado aqui como um ser incapaz de amar seja quem for excepto a si próprio, deixando ao leitor o caminho aberto para canalizar toda a sua simpatia para as vítimas que, em momento algum, tiveram hipótese de se defender. Molina deixa também entrever a crítica implícita, no discurso do narrador, face ao vampirismo da comunicação social cujo voraz apetite pela audiências a leva a transformar um violador e assassino numa estrela a ocupar lugar de destaque em noticiários e jornais. O livro pode ser apresentado também na forma de manifesto contra a violência quer individual perpetrada pelo criminoso solitário, que colectiva levada a cabo por um grupo terrorista.


Personagens e trama: a relação entre as personagens secundárias e o protagonista

O assassino é um vendedor de peixe, de aparência perfeitamente anódina, lembrando a sua caracterização psicológica e social do personagem de Patrick Süskind em O Perfume (Das Parfum, Die Gechichte eines Mörders, no original), de 1985. O facto de, tal como o protagonista do romance do autor alemão, o também anónimo oponente do protagonista de Molina trabalhar remexendo nas vísceras dos peixes e tem as mãos marcadas pelo trabalho que executa (mãos de unhas partidas e sujas, com as quais também remexe nas entranhas das vítimas) aproxima-o de Jean Baptiste Grenouille que nasceu precisamente debaixo da bancada do peixe e, ao fazê-lo, leva de imediato a vida à própria mãe que morre durante o parto. Mas ao contrário do personagem de Süskind que já nasce a assassinar (embora ainda involuntariamente) o de Molina é construído pela forma como a sociedade se estratifica, exclui os menos favorecidos e os não amados. No entanto, um e outro são seres que passam igualmente despercebidos não só pelo aspecto físico de homem comum cuja aparência não é propriamente cativante mas sobretudo pelo estatuto social que (não) possuem, desempenhando um trabalho considerado, braçal, “sujo” e por isso mesmo olhado, regra geral, como pouco edificante, mas necessário à estrutura social. Na Andaluzia de Molina é necessário haver alguém que trate do peixe para consumo e na Grasse do romance de Süskind é necessário alguém que faça o trabalho braçal e por vezes sujo da extracção das essências exigindo um olfacto especialmente apurado. Também um e outro são seres cuja parafilia se constrói ao longo do tempo pela incapacidade ou inabilidade demonstrada para o amor.

O protagonista, o inspector recé-chegado à cidade segundo as palavras de Anastacio Serrano no seu artigo “Estudio Crítico de Plenilunio de Antonio Muñoz Molina” publicado no blogue Erudición y Crítica,3 aponta para outra dicotomia na narrativa: a criação do contraponto desta trama “negra” com a história de amor desenvolvida e envolvendo o inspector e Susana Grey, a professora de ambas as vítimas que surgem no romance. O assassino-violador insinua que o seu rival, o homem que o quer desmascarar e prender, teve um passado de delator na Espanha franquista, colaborador da Polícia Política, mas não há nada dentro do monólogo interior do mesmo inspector que corrobore a tese do assassino, em cujo discurso se nota uma evidente intenção de desvalorizar o único homem que é para si uma ameaça. Serrano valida, no entanto as palavras do discurso do assassino, sem comparar o ponto de vista deste com o discurso interior quer da outra parte interessada quer das restantes personagens, ponto de vista do qual nós preferimos distanciar-nos.

Logo a seguir temos Susana Grey, a qual, além de formar o par romântico com o inspector, tem uma relação próxima com uma das vítimas, Fátima, a primeira criança violada e, posteriormente, assassinada. Serrano descreve Susana como uma “mulher culta, apreciadora de literatura e música”. É também ela o ponto de ligação entre o inspector e as restantes personagens, uma vez que é simultaneamente namorada do inspector, amiga do médico forense Ferreras, professora da criança assassinada e da outra vítima sobrevivente e cliente do assassino. Susana é uma mulher divorciada que está a refazer a sua vida e “ultrapassar o fracasso matrimonial, o medo e a solidão” (Serrano, 2010).

No nível imediatamente a seguir temos duas personagens secundárias mas que desempenham funções importantes na trama: o Padre Orduña, sacerdote jesuíta reformado, antigo mestre do inspector, cuja presença e atitudes têm como finalidade marcar o limite entre o franquismo e a época de transição democrática (Serrano, 2010):

«Aparece caracterizado como um padre trabalhador empenhado em conciliar o cristianismo com o comunismo. Trata-se de uma figura arquetípica dos últimos anos da ditadura. Trata-se de um homem de outra época, a realidade desenraizou-o e não encontra lugar na nova sociedade. O seu papel no romance consiste em contextualizar a infância do inspector, que é filho de um homem perseguido durante a guerra civil e ao qual, não conseguiu transmitir os seus ideais. Cumpre também a função de escutar o inspector numa espécie de confissão laica mediante a qual ficamos a conhecer as suas frustrações e debilidades.» (tradução minha)

A segunda personagem que se encontra também neste patamar de importância na trama é o médico Ferreras que desempenha duas funções no romance: a primeira, a de fornecer os detalhes da morte e violação das duas crianças. A segunda é a de informar o leitor do passado de Susana, recém-chegada à cidade, pois era amigo do marido desta até à altura em que aquele decide partir com a jovem que era então sua namorada. Para Serrano, este é um personagem que passa uma imagem de homem jovial, impulsivo e um pouco fanfarrão.

Quanto à esposa do inspector, também ela anónima, esta desempenha um papel marginal mas que ajuda a compreender a atitude do inspector no tempo em que se desenrola a narrativa, à construção da sua caracterização psicológica e a compreender a enorme carga de solidão e melancolia que perpassa quer no seu discurso quer nas atitudes. Outro papel marginal mas essencial é o de Fátima, a primeira vítima, a criança assassinada que o inspector só conhece depois de morta, através do depoimento da professora, de fotos e de vídeos caseiros, fornecidos pelos pais. É originária de uma família operária e também a melhor aluna da turma. Na mesma situação encontra-se Paula, a segunda menina atacada pelo violador e que sobrevive por uma unha negra. Ao revelar uma coragem e força extremas torna-se essencial para o desenvolvimento da trama e a identificar o assassino.

Todas as personagens de Plenilúnio, excepto Susana, mostram-se resignadas ou, de certa forma, conformistas no tocante à procura da felicidade, como faz notar Serrano (2010):

(...) El inspector há llevado una vida dura en Bilbao, que há provocado la enfermedad mental de su mujer. El asesino muestra su frustración familiar y vital. El Padre Orduña acusa el fracaso de sus ideales y el olvido a que está sometido. Susana Grey, la maestra, lleva una vida solitaria, provocada por el fracaso matrimonial y por el abandono de su hijo en la adolescencia. Susana es el único personage que luta contra su vida gris. Ella lleva la iniciativa en la relación amorosa com el inspector y además toma la determinación de abandonarlo todo para un cambio de vida en Madrid.
(…) Susana, la maestra, representa a la mujer moderna, y liberada de las ataduras de la época de la dictadura.»

Esta caracterização positiva da única personagem feminina no romance, a única também a ter esta componente tão favorável tem como consequência a aproximação com o leitor, numa primeira instância, e posterior identificação com ela. Esta disposição para atribuir a caracterização favorável e positiva à única personagem feminina do romance aproxima Antonio Muñoz Molina do também romancista Umberto Eco, o esteta e semiólogo italiano, que optou por dar o mesmo tratamento às personagens femininas que aparecem nos seus romances O Pêndulo de Foucault publicado dez anos antes de Plenilúnio, voltando a fazê-lo na sua mais recente obra ficcional, Número zero.


Espaços interiores e as personagens

Mas as casas e os espaços interiores, públicos e privados, onde se movimentam as personagens têm, também um papel fundamental no romance. Estas não servem apenas para ajudar à caracterização das personagens mas também para ajudar à caracterização social pela forma como são apresentados os espaços públicos, ajudando à contextualização e à construção da atmosfera social onde se passa a acção e ao traçar de todo um retrato social de época que caracteriza o bildungsroman o que Molina consegue de forma magistral.


O Papel da Noite e da Lua

O romance é desenvolvido, na sua maior parte, durante durante as horas nocturnas, sendo os acontecimentos mais importantes passados sob a vigilância da lua cheia, tais como os ataques às vítimas do pedófilo-assassino vendedor de peixe ou o encontro amoroso entre Susana e o Inspector. Somente a partir do antepenúltimo capítulo, após a superação do temor colectivo do assassino, é que a história começa a passar-se à luz do dia. A lua, inclusivamente, é mencionada em quase todos os capítulos, surgindo logo no título, sendo que é nos capítulos onde a tensão psicológica se encontra no seu ponto culminante que a Lua aparece cheia. Serrano (2010) chama a atenção para o facto de ser a mesma Lua ser também a peça chave para a resolução do crime, uma vez que é a intuição do inspector que lhe revela que o assassino irá atacar novamente na noite de lua cheia. Ainda segundo Serrano, todo este protagonismo da Lua nos momentos de maior terror no romance está associado à crença popular de que a lua cheia incita as pessoas ao Mal.

O romance foi amplamente premiado em vários países acumulando o Prémio Euskadi de Plata (1997), o Prémio Femina Étranger, para o melhor romance estrangeiro publicado em França (1998), o Prémio Elle (1998) e o Prémio Crisol (1998). No ano 2000, estreou a sua adaptação ao cinema, realizado por Imanol Uribe. A adaptação esteve a cargo de Elvira Lindo, esposa do autor e a interpretação de Miguel Ángel Solá (inspector), Fernando Fernán-Gomez (Padre Orduña) e Juan Diego Botto (o assassino-violador).

A tradução para esta edição da Editorial Notícias não está, infelizmente, à altura da qualidade da prosa de Molina nem da extrema complexidade do enredo, não apenas por ser um trabalho de conversão para a Língua Portuguesa demasiado literal, mas também por não ter em conta as diferenças semânticas existentes entre muitas palavras comuns ao Português e ao Castelhano, ou mesmo a diferença de valor pragmático que vai da língua de Cervantes à língua de Camões.

Uma última palavra para a capa do livro que ilustra de forma brilhante a tragicidade e a atmosfera “negra” do romance: um quadro de Goya representando Cronos (o Tempo) a devorar os seus filhos. Também o Tempo, a longo prazo no romance, se encarrega de devorar as vidas das personagens, destruindo-lhes lentamente os sonhos e tornando a vida desprovida de sentido.

Aguarda-se nova tradução e reedição da obra que recoloque Antonio Muñoz Molina de volta aos escaparates das livrarias portuguesas.


Londres, 20 de Abril de 2013

Cláudia de Sousa Dias





3 http://erudicion.blogspot.pt/2010/12/estudio-critico-de-plenilunio-de.html

Webgrafia consultada:

https://es.wikipedia.org/wiki/Antonio_Mu%C3%B1oz_Molina

http://www.goodreads.com/author/show/39280.Antonio_Mu_oz_Molina

http://erudicion.blogspot.co.uk/2010/12/estudio-critico-de-plenilunio-de.html

http://www.edu.xunta.gal/centros/iesmilladoiro/system/files/TEMA%20Plenilunio%202015.pdf

http://www.quelibroleo.com/plenilunio

http://www.fnac.pt/Plenilunio-ANTONIO-MUNOZ-MOLINA/a12318